sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A Dama e o Vagabundo


Era uma sexta-feira por volta das onze da noite. Lá estava Lorena, de moletom preto, calça jeans e all star velho. Ela trabalhara o dia todo e estava chegando da faculdade. De repente foi abordada por um rapaz alto e magro, bermuda larga e encapuzado.

- Aí! Passa o celular! - Exclamou num tom desesperador.
- Quê?! - Ela disse sem se alterar. Já estava acostumada a ser abordada por trombadinhas, afinal de contas a região onde morava era cheia desse tipo de gente.
- O celular menina! -  Engrossou um pouco mais a voz.
- Olha cara - disse de um jeito que parecesse cansada de toda noite ser abordada por seres estúpidos como ele - Por incrível que pareça, esqueci o celular no serviço..
- Ah tá - o assaltante debochou - E eu esqueci minha arma na casa da sogra. Anda garota, passa a droga do celular.. Pode ser a carteira também vai!
- Carteira? ha.. Tá vazia que nem seu cérebro.
- Qual é meu, passa essa mochila!
Ela jogou a bolsa no chão e abriu o zíper maior.
- Tá vendo isso aqui? São livros e apostilas pelas quais não terão serventia nenhuma pra você.
- O que tem no bolso da frente?
- Abre e vê!
Ele se abaixou e abriu o zíper menor. Assim que colocou a mão dentro da bolsa puxou a carteira da jovem.
- Eu sabia - ele riu maliciosamente.
- Abre e vê! - Ela repetiu.
Puxou o zíper e abriu a carteira com cuidado, mas quando olhou dentro murchou. Ela estava vazia, só com alguns papeis e cartões.
- Mas.. - Ele suspirou cansado.
- Ta com fome? - Ela perguntou de súbito.
Demorou um pouco para notar que era um bandido incompetente, não conseguira nem escolher decentemente suas vítimas, escolhera uma que estava pior do que ele. Ao se ver naquela situação, se levantou meio abatido. E depois de alguns segundos respondeu.
- Um pouco.
- Eu tô cheia de fome! Trabalhei o dia todo e tive que ir pra faculdade ainda..
- É já, entendi. Vou indo, você tá pior que eu.
- Não, espera aí! Você não tem dinheiro? Que droga!
- Ué?! Se eu tivesse não estaria aqui assaltando uma pobretona.
- Eu moro virando a esquina, acho que minha mãe fez janta, ta afim?!
- Você vai levar um desconhecido na tua casa?
- Desconhecido? Eu te conheço Jorge, você que não me conhece.
- Demorou pra comer na casa da Dona Marta!
Ela riu constrangida ao saber que ele também a conhecia.

Depois disso muita coisa mudou, Jorge tomou jeito na vida, arranjou um emprego, terminou a escola e hoje é técnico eletricista, e Lorena Professora de história da cursinho mais famoso da cidade. O difícil é acreditar que depois de cinco anos Jorge e Lorena se casaram na igrejinha do bairro onde se conheceram.